quarta-feira, 8 de setembro de 2010

 

Afinal de que vale um Check-up

Inúmeras pessoas conhecem histórias de pacientes que passaram por um check-up médico e em seguida apresentaram uma doença grave. Será que foi falha do check-up ou o paciente não cumpriu as orientações? Provavelmente nenhuma coisa nem outra.
Existem várias empresas médicas que fazem avaliações em um dia com vários especialistas e exames concentrados em um só lugar. Parece tentador e simples.
Ocorre que a maioria desconhece que existe um número vastíssimo de exames complementares (da ordem de milhar) que inviabilizariam economicamente qualquer check-up. Além de que certos exames, ditos de rotina, podem apresentar um risco, mesmo que pequeno, para serem realizados. Dois exemplos – a colonoscopia, embora extremamente útil na prevenção do câncer do intestino grosso, necessita de sedação, limpeza total do intestino com catárticos e podem acontecer perfurações da parede intestinal - as tomografias de tórax ou abdômen demandam uma carga de radiação equivalente a mais de 100 radiografias simples de tórax, sem falar nos perigos do contraste iodado em relação a alergias e agravamento da função renal de quem já tenha um pequeno problema no rim e não saiba. Ah, existe o ultra-som. Não é a mesma coisa? Para não tornar este comentário longo demais a resposta é depende...

Então o melhor é não fazer nada?

Num futuro, ainda distante, poderemos ter o mapa genético do paciente e sabendo quais doenças são as mais prováveis faremos os exames preventivos dirigidos para aquele caso específico, dando uma cobertura de segurança, relação custo benefício e cota de sacrifícios perfeitamente coerentes. Será?

E o que fazer hoje em dia?

O principal é não tratar indivíduos como “amostra” de uma população. Isto é, não fazer à mesma rotina para todos. Ora, se o familiar direto do paciente tem um caso de câncer de intestino grosso, antes dos 50 anos de idade ou casos de doença coronariana, hipertensão ou diabetes, daremos uma atenção especial a essas informações cruzando-as com o sexo, idade do paciente, história, hábitos de vida, componente emocional, além de detalhado exame físico. Exames laboratoriais iniciais não invasivos também nos ajudarão neste verdadeiro inventário da saúde de um paciente. É preciso calma nesta fase inicial, pois traçado o perfil médico este valerá ao longo da vida e facilitará o seguimento com segurança deste caso específico.
Para ficar em um exemplo apenas, recebi um paciente de 30 anos para um check-up e na entrevista veio à tona o temor que fosse portador de um aneurisma cerebral. Sua irmã sofrera uma iminência de ruptura de um aneurisma e por pouco não ficou com graves seqüelas neurológicas. Neste caso é justificável realizar um exame de ressonância cerebral que nenhuma rotina faria em um paciente assintomático. Justificável até pelo aspecto psicológico de retirar esta ameaça.
Sabemos que é comum nos serviços de check-up em um dia fazerem ultra-sonografia das tireóides. Por que não ressonância cerebral? É fato público que o irmão de um ex-presidente apenas seis meses após “extenso” check-up foi diagnosticado com múltiplos tumores cerebrais já avançados. Obviamente é o custo do exame um dos fatores de decisão de que exames incluir. Não quero dizer com isso que devemos pedir ressonância cerebral para todos, seria um absurdo. Também não significa que fazer um check-up padronizado seja pior que nada!

Tenho certeza que podemos ter critérios muito mais eficientes e precisos ponderando caso a caso e exercitando nossa capacidade de previsão para proteger da melhor forma cada um de nossos pacientes.

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