terça-feira, 25 de agosto de 2009

 

Medicamentos, um perigo?

Muitos pacientes que comparecem para um check up, ao final da avaliação, têm a indicação de usar algum medicamento. Alguns se assustam muito e questionam a sua real necessidade. Acredito que esta reação não aconteça apenas porque o medicamento, principalmente os de uso diário, nos indica que não estamos tão bem como gostaríamos. Acho que logo pensamos no fato de que todo medicamento tem efeitos colaterais. E isto é uma grande VERDADE. Ocorre que a maioria dos pacientes não tem os elementos de ponderação do médico nem o conhecimento da matéria. Fica a pergunta, será que o doutor SABE de fato no meu caso indicar o melhor caminho? Acontece que nem sempre decorreu o tempo necessário para uma vivência com o profissional que permita ter confiança em seus elementos da decisão. O que fazer? Primeiro ter calma... O convencimento para tomar a medicação deve necessariamente passar por um esclarecimento detalhado do problema do paciente, das vantagens e desvantagens do uso de tal medicamento, do tempo que este medicamento está no mercado e da experiência do médico com o remédio. Para ficar em um só exemplo vamos citar o uso de drogas para controle do colesterol. Sabemos que estas drogas atuais são poderosas neste controle e conhecemos bem seus efeitos colaterais. Em grandes grupos que fizeram uso deste medicamento chega-se a diminuir a incidência de problemas coronarianos e cerebrais em torno de 40%. A questão é que vários destes pacientes nunca teriam um infarto ou qualquer outro problema coronário e outros, ao contrário, terão um grande benefício. Para os que não terão problemas tomar o medicamento só traz despesa e risco de efeitos colaterais. Esta tentativa de futurologia da medicina preventiva é baseada em várias informações sobre o paciente, em sua história familiar, em seus hábitos de vida, em outros problemas médicos associados e em exames complementares. Para tentar definir se este colesterol está de fato depositando-se nas artérias e se a chance de problemas futuros é realmente grande. Como se vê não é só fazer um exame, constatar um colesterol elevado e tomar remédios para isso. É importante saber que o colesterol isolado não é doença e sim um dos fatores importantes que pode provocar a doença aterosclerótica. Isso pode ser extrapolado para várias medidas medicamentosas que visam prevenir complicações futuras. Acho que o medo deve dar lugar à dúvida, seguido do adequado diálogo e o devido esclarecimento no tempo necessário para a formação de um juízo. Perguntar é preciso, temer não é preciso.

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domingo, 23 de agosto de 2009

 

Sra. Vinsky


Negar era uma forma de sobreviver. Assim tinha sido ao sair da Polônia em 1945 e Sra. Vinsky nada comentava do ocorrido. Quando a fundação Spielberg esteve no Brasil para tomar depoimentos dos sobreviventes de campos de concentração, ela ficou muda diante do vídeo por 30 minutos sem mudar a expressão facial. Tinha colocado uma peruca nova para encobrir a acentuada perda de cabelo que a vinha acometendo nos últimos anos e ficou triste por desperdiçar a oportunidade de aparecer tão bem para as amigas, que certamente fariam comentários por vários finais de semana na roda da mesa de cartas.
Quando seu marido alegando necessitar de algum, vendeu seu piano, preferia pensar que a artrose já lhe impedia de tocar e o melhor era parar. Para a neta passaria a colocar CDs e não teria importância à saudade que sentiria de sentá-la ao colo deixando os caracóis louros lhe roçar o rosto repetindo o gesto tão familiar pelo qual ela mesma havia passado há mais de 80 anos.
Difícil foi descobrir pouco depois da morte do marido, que o anel de brilhante ganho nas bodas de prata não estava na gaveta do escritório. Fez grande esforço para impedir que as circunstâncias lhe viessem à cabeça. Não encontrava justificativa para o marido pedir para guardá-lo no escritório. Várias festas sem o brilhante aconteceram e o Isaac não trazia o anel. Pior foi ter que virar o rosto abruptamente para não confirmar que o brilhante no dedo da Esther, há mais de três metros da sua mesa de jogo do Clube, era talvez...
Sentia-se mal e não sabia bem por quê. Sua filha agora morava em São Paulo e procurar um médico sem seu acompanhamento não lhe agradava. Acostumara-se a ter Isaac a seu lado nessas horas e ele sempre sabia informar ao médico o que ela sentia.
Sentada em frente ao doutor não conseguia dizer nada e restringia-se a responder mecanicamente às perguntas.
O médico partiu para o ataque e passou a perguntar sobre cada órgão. – “e sua função intestinal?”.
“Não funciona” respondeu vinsky
“Há quanto tempo Dona Vinsky?”
“Não entendo”
Sem alternativa foi mais explícito:
“Há quanto tempo a senhora não faz cocô?”
“Ah doutor, nunca fiz”.

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Ministro Indeciso

O maior argumento do governo para restringir a distribuição do Oseltamivir (Tamiflu) é a possibilidade de desenvolvimento de resistência a médio prazo e perda de uma opção importante de tratamento. No entanto, considerando que existe a possibilidade concreta de termos uma vacina em breve acho que deveríamos seguir a conduta de países como a Inglaterra que mandam senha pelo computador para que os pacientes peguem o medicamento. Logicamente teríamos que adaptar este programa ao Brasil como, por exemplo, pela farmácia popular que subsidia fortemente certos medicamentos e os distribui nas farmácias. Temo que quando tivermos a vacina, muitos pacientes justamente dos segmentos mais pobres, estarão mortos e a indução de resistência virá dos países mais ricos e mais liberais no uso do Oseltamivir.
Falta uma conduta mais corajosa do Ministério da Saúde de assumir os riscos de uma estratégia definida. Ficamos vagando ao sabor das pressões. Aliás condenar o adiamento das aulas é um absurdo pois realmente trata-se de ganhar tempo!

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